No início do século 19, os exércitos de
Napoleão Bonaparte invadiram Portugal, D. João VI, rei de Portugal, com apoio
dos ingleses, decide partir para a colônia com toda corte, transferindo assim o
poder de Portugal para o Brasil.
Em 1808, chega no País a comitiva real,
primeiro na Bahia, logo depois, no Rio de Janeiro. A sede da corte foi
instalada no convento do Carmo. O prédio foi devidamente reformado e adaptado,
e sua capela foi transformada em teatro e sala de concertos.
D. João VI, preocupado com o desenvolvimento
cultural, trazia na bagagem todos os recursos para a transformação da nova
metrópole. O rei, adaptado à nova sede do Reino, quis modernizá-la. Construiu o
Teatro São João, em 1812, liberou o comércio, os portos, as fábricas, as
tipografias e a importação de livros. Organizou a Biblioteca Real (60 mil
volumes), criou o Observatório Astronômico, o Jardim Botânico e o Museu
Nacional.
Na Europa, o Império de Napoleão perde
o poder e ele é exilado, em 1814. D. João contrata alguns artistas franceses
que desejavam sair da França, pois tinham apoiado Napoleão.
Nesse momento, o Brasil recebe forte
influência cultural europeia, intensificada ainda mais com a chegada de um
grupo de artistas franceses, em 1816, encarregado da fundação da Academia
Imperial de Belas Artes, inaugurada em 1826, na qual os alunos poderiam
aprender as artes e os ofícios artísticos. Esse grupo ficou conhecido como
Missão Artística Francesa. Chefiada por Jacques Le Breton, que dirigia a
Academia Francesa de Belas-Artes na França, traziam a modernização desejada
pelo soberano. Vieram pintores, escultores, arquitetos, músicos, artesãos,
mecânicos, ferreiros e carpinteiros.
Os artistas da Missão Artística
Francesa pintavam, desenhavam, esculpiam e construíam à moda europeia. Obedeciam
ao estilo neoclássico, ou seja, um estilo artístico que propunha a volta aos
padrões da arte clássica (greco-romana) da Antiguidade e do Renascimento. O
artista não deve imitar a realidade, mas tentar recriar a beleza ideal em suas
obras, por meio da imitação dos clássicos.
Embora os brasileiros tenham reagido
desfavoravelmente à invasão de artistas estrangeiros, pois se tratava de uma
nova colonização cultural, esses deixaram uma profunda influência na arte
brasileira, principalmente na pintura, na paisagem urbana e na arquitetura.
No campo da arquitetura a Missão
Francesa desenvolveu o estilo Neoclássico, abandonando os princípios do barroco
colonial português.
Grandjean de Montigny (1772-1850) foi
arquiteto e responsável pela edificação da Academia Imperial de Belas Artes. O
prédio que era localizado na Rua do Ouvidor foi demolido em 1930, onde hoje se
encontra o Museu Nacional de Belas Artes. Do prédio original, restou apenas o
frontão, que se encontra no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que fora preservado
e transportado para o parque nos anos 40 por insistência de Lúcio Costa.
Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) foi
pintor francês de grande destaque na corte de Napoleão Bonaparte e considerado
um dos mais importantes da Missão Francesa. Em 1773 ele foi aluno de Louis
David na Escola de Belas Artes de Paris. Em 1805 foi escolhido, com outros
pintores, para retratar as campanhas de Napoleão na Alemanha. Com a queda do
imperador, ele escreve à rainha de Portugal solicitando-lhe o apoio, com o
objetivo de serem contratados ele e seus companheiros, por não se sentirem
seguros na França devido às perseguições políticas, dessa forma, em 1816, ele
viaja com sua família para o Brasil como integrante da Missão Artística
Francesa. Durante os cinco anos que residiu no País, ele produziu inúmeros
quadros com diversos temas: bíblicos, mitológicos, históricos, paisagens e
retratos infantis. Deixou mais de 30 paisagens do Rio de Janeiro, ainda atuou
como um dos fundadores da Academia Imperial de Belas Artes, e em 1820, é
nomeado professor da cadeira de pintura de paisagem da Academia. Deixa esse
cargo no ano seguinte e retorna à França.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848) foi chamado
de “a alma da Missão Francesa”. Ele foi desenhista, aquarelista, pintor
cenográfico, decorador, professor de pintura e, em 1829, organiza a primeira
exposição de arte no Brasil. Em 1818, ele trabalhou no projeto de ornamentação
da cidade do Rio de Janeiro para os festejos da aclamação de D. João VI como
rei de Portugal, Brasil e Algarve. Mas, é em Viagem Pitoresca e Histórica ao
Brasil, coleção composta de três volumes com um total de 150 ilustrações, que
ele retrata e descreve a sociedade brasileira. Seus temas preferidos são a
nobreza e as cenas do cotidiano brasileiro e suas obras nos dão uma excelente
ideia da sociedade brasileira do século XIX.
Auguste-Marie Taunay (1768-1824) foi
escultor e professor francês, irmão do pintor Nicolas-Antoine Taunay, além de
diversas esculturas, ornamentou o Rio de Janeiro para as festas de Aclamação de
D. João VI como Rei de Portugal, Brasil e Algarve.
Nesse período também vieram para o
Brasil outros pintores motivados pela paisagem luminosa e pela existência de
uma burguesia rica e desejosa de ser retratada. É nessa perspectiva que se
situa alguns artistas europeus independentes da Missão Artística Francesa, que
destacamos a seguir.
Thomas Ender (1793-1875) foi
pintor austríaco, pertenceu à Missão Artística Austro-Alemã, um grupo de
artistas e cientistas que acompanharam a princesa Leopoldina em sua viagem para
o Brasil a fim de se casar em 1817 com o futuro imperador Dom Pedro I. Apesar
de dominar várias modalidades de pintura, destacou-se como aquarelista.
Acompanhou a missão científica de Johann Baptiste von Spix e Carl Friedrich
Philipp von Martius permanecendo no Brasil entre 1817 e 1818. Nesse período,
produziu uma vasta obra de registro do que viu no Rio de Janeiro e em São
Paulo.
Johann Moritz Rugendas (1802-1858) foi pintor
alemão, que viajou por todo o Brasil durante o período de 1822 a 1825, pintando
os povos e costumes que encontrou. Cursou a Academia de Belas–Artes de Munique,
especializando-se em desenho. Além do Brasil, visitou outros países da América
Latina, documentando, por meio de desenhos e aquarelas, a paisagem e os
costumes dos povos que conheceu.
A ideia de criação de uma escola de
belas-artes veio com a família real e levou algum tempo para ser realizada. Em
1816 funda-se a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, que vai sofrendo
transformações no decorrer do tempo. Passa a ser chamada de Real Academia de
Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil (1820) e Academia Imperial de
Belas-Artes (1824). Mais tarde o nome foi alterado para Escola de Belas-Artes.
Sua influência estende-se por mais de um século nas artes plásticas do Brasil.
Deu origem ao Museu Nacional de Belas-Artes, que hoje ocupa um magnífico
prédio, construído em 1909 por Adolfo Morales de lós Rios, no centro do Rio de
Janeiro.
A Academia Imperial de Belas Artes
abriu seus cursos em novembro de 1826. O gaúcho Manuel Araújo Porta Alegre,
depois de ter sido aluno, dirigiu a Escola de Belas-Artes de 1854 a 1857. Foi
professor, crítico, poeta, escritor e produziu desenhos e pinturas. Fundou o
Conservatório Dramático e a Academia de Ópera Lírica do Rio de Janeiro (1837).
Dedicou-se à caricatura e foi um dos seus pioneiros no Brasil, quando dirigiu a
revista Lanterna Mágica (1844-1857) que, além do humor e da sátira, trazia
conteúdo essencialmente político.
Artistas brasileiros como Zeferino da
costa, Augusto Muller e Simplício Rodrigues de Sá formaram-se sob a influência
dos artistas franceses.
COMO CITAR:
IMBROISI,
Margaret; MARTINS, Simone. Missão Francesa. História das Artes, 2022.
Disponível em:
<https://www.historiadasartes.com/nobrasil/arte-no-seculo-19/missao-francesa/>.
Acesso em 08 Feb 2022.