https://youtu.be/mmFWTpKwY44
"Resumo
As revoltas na Primeira
República foram motivadas por inúmeros fatores, como desigualdade social e
pobreza, violência policial, medo, fanatismo religioso etc.
Guerra de Canudos (1896-1897)
Ruínas do arraial de
Canudos.**
A Guerra de Canudos aconteceu
no sertão da Bahia entre 1896 e 1897 e colocou o Exército brasileiro contra os
habitantes de um arraial chamado Belo Monte. O arraial era liderado por Antônio
Conselheiro, um beato (líder religioso local) que se instalou na região em
1893, após participar de protestos contra o aumento de impostos que tinha
acontecido desde a Proclamação da República.
O arraial, que ficou conhecido
como Belo Monte, ficava às margens do rio Vaza-Barris e já era habitado. Com a
chegada de Antônio Conselheiro, o local cresceu e chegou a possuir cerca de 24
mil habitantes.|1| Belo Monte transformou-se em um centro que trazia novas
perspectivas de vida a uma população de ex-escravos carente e que não tinha acesso
à terra.
A atuação de Antônio
Conselheiro como líder religioso também foi extremamente importante e
responsável por atrair milhares de pessoas à procura do beato, e isso fez de
Canudos um centro de romaria. Canudos não era um arraial com estilo de vida
igualitário, mas, nas palavras das historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa
Starling, tratava-se “de uma experiência social e política distinta daquela do
governo central republicano”.|2|
A liderança religiosa de
Antônio Conselheiro apresentava-se como um risco à Igreja, devido a sua grande
popularidade e à experiência social e política com traços de igualitarismo.
Ambos aspectos representavam uma ameaçava às elites econômicas locais, que se
baseavam no latifúndio e no domínio dos coronéis. Sendo assim, Canudos era um
risco para as elites da Primeira República e, por isso, na ótica dessas elites,
precisava ser eliminada.
Assim, foram organizadas
expedições militares com o objetivo de destruir o arraial. A primeira expedição
foi organizada pelo estado da Bahia e foi derrotada pela resistência formada em
Canudos. As segunda e terceira expedições foram organizadas por tropas do
Exército e também foram derrotadas, tendo inclusive seu comandante morto em
combate.
Na quarta expedição,
organizada a partir de abril de 1897, a tropa enviada era composta cerca de
6500 soldados (incluindo os oficiais) equipados com armamentos modernos —
incluindo canhões. O resultado final foi Canudos arrasado. As tropas queimaram
e dinamitaram o arraial, e os prisioneiros foram degolados.
Acesse também: Entenda uma
prática da Primeira República conhecida como degola
Guerra do Contestado
(1912-1916)
A Guerra do Contestado
aconteceu em uma área disputada pelos estados de Santa Catarina e Paraná entre
1912 e 1916. Assim como aconteceu em Canudos, na região do Contestado, uma
série de sertanejos pobres e desalentados encontrou, no discurso de um líder religioso,
chamado José Maria, uma alternativa para sua vida e passou a segui-lo.
O contexto em que ocorreu o
Contestado era tenso. Primeiro, havia a disputa territorial entre Santa
Catarina e Paraná. Além disso, parte da região contestada foi entregue para
Percival Farquhar (um magnata conhecido por construir a ferrovia
Madeira-Mamoré) para que construísse uma ferrovia que ligasse o Rio Grande do
Sul a São Paulo.
No acordo de cessão de terras,
a Farquhar também foram entregues terras
num raio de 15 km da ferrovia, para que ele pudesse explorar a madeira
disponível na região. Acontece que a região já era habitada por pessoas que
viviam de uma agricultura de subsistência e da erva-mate. A empresa vinculada a
Farquhar, responsável pela exploração da madeira nessas terras, organizou
tropas de jagunços para expulsar os habitantes da área.
Além disso, milhares de
trabalhadores da ferrovia perderam seus empregos, o que reforçou o grupo de
pessoas pobres. A guerra em si começou em outubro de 1912, quando um grupo de
pessoas lideradas por José Maria instalou-se em Irani, na região contestada
pelos dois estados. O agrupamento de pessoas em Irani foi entendido pelo Paraná
como uma invasão coordenada pelos catarinenses, e, assim, esse estado atacou os
sertanejos. Nesse ataque, José Maria acabou sendo morto.
Após a morte de José Maria, o
fervor religioso prosseguiu com os sertanejos fundando uma série de comunidades
autônomas. A existência dessas comunidades era enxergada pelos coronéis locais
como uma ameaça, e foi daí que se iniciou a repressão contra as comunidades
autônomas formadas pelos sertanejos.
A raiz do conflito é explicada
pelo historiador Paulo Pinheiro Machado da seguinte maneira:
Os episódios de perseguição
policial contra o monge José Maria foram motivados pelo temor da concentração
de gente pobre do campo. As autoridades locais e estaduais, em sua maioria
grandes fazendeiros e oficiais da Guarda Nacional, sentiam que tinham como
missão subjugar os sertanejos que não se submetiam mais aos seus respectivos
coronéis. Formavam-se grupos autônomos, com fortes vínculos religiosos, nos
quais expectativas místicas mesclavam-se à crítica social. Originalmente, essas
comunidades não eram hostis nem militarizadas, mas seu anseio por independência
despertou a ira dos governantes, da imprensa e dos fazendeiros.|3|
A Guerra do Contestado
estendeu-se até janeiro de 1916 e foi responsável pela morte de cerca de 10 mil
pessoas. As comunidades autônomas foram destruídas e, nas décadas seguintes,
foi realizado um processo de branqueamento daquela região.
Revolta da Vacina (1904)
A Revolta da Vacina aconteceu
entre 10 e 16 de novembro de 1904, na cidade do Rio de Janeiro, à época,
capital do Brasil. A Revolta da Vacina foi uma revolta popular que aconteceu
pela insatisfação da população por conta da violência do processo de
sanitarização da capital. Naquele momento, o Rio de Janeiro passava por uma
campanha de vacinação forçada da população contra a varíola.
O contexto da Revolta da
Vacina no Rio de Janeiro era conturbado e teve como estopim a campanha de
vacinação forçada. O Brasil, na época, era governado por Rodrigues Alves, e a
capital, por ordem presidencial, passava por um processo de modernização e
revitalização. Nesse processo, ordenou-se, por exemplo, o alargamento de uma
série de avenidas da cidade.
O processo de revitalização,
por sua vez, acontecia às custas da desocupação de milhares de pessoas do
centro do Rio de Janeiro. As desocupações aconteciam de maneira violenta e eram
realizadas exatamente para dar lugar às obras de modernização e revitalização.
Junto disso foi realizada uma campanha de erradicação de doenças que afetavam
intensamente o país naquele período, como a varíola e a febre amarela.
A campanha de vacinação era
liderada pelo sanitarista Oswaldo Cruz, e a forma como ela foi conduzida aliada
à falta de informação levaram a população a rebelar-se. As vacinações
compulsórias aconteciam de maneira violenta, e, além disso, serviços, como
matrícula em escolas, passaram a exigir cartão de vacinação.
O temor da população à
vacinação levou a uma grande revolta nas ruas do Rio de Janeiro durante os dias
citados. O resultado da revolta, além da destruição material na capital, foi a
morte de 30 pessoas e mais de uma centena de feridos.
Revolta da Chibata (1910)
A Revolta da Chibata aconteceu
em 1910 e teve como estopim a insatisfação dos marinheiros negros contra os
castigos físicos a que eram sujeitos na corporação. No começo do século XX, a
Marinha brasileira era uma instituição marcada pelo racismo, uma vez que os
cargos mais baixos da corporação eram ocupados por negros e mestiços que eram
punidos com chibatadas quando alguma regra era violada.
Em 1910, os marinheiros já
haviam manifestado sua insatisfação contra as chibatadas quando alguém era
punido. O estopim para a revolta dos marinheiros aconteceu quando Marcelino
Rodrigues Menezes foi punido com 250 chibatadas sem ter direito a tratamento
médico. Os marinheiros, insatisfeitos com os castigos físicos, o racismo e a
desigualdade social, rebelaram-se.
Os marinheiros tomaram o
controle de quatro embarcações da Marinha exigindo o fim dos castigos físicos.
O líder dos revoltosos era João Cândido, conhecido também como Almirante Negro.
Os membros da revolta redigiram um manifesto ao presidente Hermes da Fonseca e
ameaçaram atacar o Rio de Janeiro caso não tivessem suas reivindicações
atendidas.
A Revolta da Chibata foi
duramente reprimida com milhares de marinheiros sendo dispensados. Outros
acabaram sendo presos, torturados e enviados para a Ilha das Cobras, enquanto
outros ainda foram enviados para trabalhar em seringais na Amazônia. Muitos dos
que foram enviados para os seringais foram fuzilados no trajeto.